Não conheci Joaquim Lavoura. Talvez até o tivesse visto. Mas
dificilmente teria sabido, do alto dos meus 15 anos, quando você deixou a
Terra, que aquele homem comum, com jeito bem popular, de modesto trajar,
cigarro caído no canto da boca, chapéu característico, pudesse ser o prefeito.
Muita gente simples se parecia com a ideia que eu tinha de Lavoura. E confesso
que, mesmo tendo visto tantas fotos, como tenho visto hoje, ainda assim penso
que já vi um sem número de Lavouras pela minha vida.
Lendo alguma coisa, conversando com alguns amigos,
entrevistando alguns expoentes, percebi que as fotos apenas me mostravam um
trabalhador, como tantos com as mesmas características, mas que acabou se
destacando por um único detalhe: era obstinado pela coisa pública.
Um homem que madrugava na garagem da Prefeitura, andando a
pé, conversando com um e com outro para dar as primeiras ordens do dia, não
tinha perfil de prefeito.
Um homem que pouco dinheiro tinha para a própria
sobrevivência e que com pouco vivia, não tinha perfil de prefeito.
Um homem que acompanhava pessoalmente as obras, que pegava
na picareta, na pá, na enxada, que subia no trator, não importando a hora do
dia ou da noite, não tinha perfil de prefeito.
Um homem que não tinha papas na língua, que dizia o que
pensava a subordinados, superiores e a iguais, não tinha perfil de prefeito.
Um homem que não
passeava de carro oficial, que recebeu passagem do presidente para ir à
Brasília e a devolveu lá chegando, tendo pago a viagem de seu próprio bolso,
não tinha perfil de prefeito.
Um homem de poucas palavras, de pouco riso, de grande vigor
e de aversão à vida palaciana, não tinha perfil para ser prefeito.
Mas você foi... e por três vezes, sempre com votação
estupenda.
Não o conheci, Lavoura. Talvez você fosse mesmo um daqueles
senhores simples, modestamente trajados, cigarro no canto da boca, chapéu na
cabeça, calça de pernas arregaçadas, par de sapatos gastos, ou de botas, ou de
chinelos... provavelmente, alguns daqueles homens humildes fossem tão honestos
e trabalhadores como você. Alguns, quem sabe, nunca tiveram a mesma
oportunidade. Ou mesmo não souberam agarrar a oportunidade que tiveram. Ou
nunca quiseram a oportunidade que nem você pediu para ter. Muito provavelmente,
esses homens humildes e trabalhadores viam em você a esperança – ou o espelho. Quantos
não depositaram essa esperança nas urnas, rabiscando um xis no seu nome que
eles mal sabiam ler. Mas você os representava e sabia disso. E por isso jamais
se envergou.
Sem ter perfil de prefeito, você era mesmo improvável,
inimaginável nos dias de hoje.
E o menino de 15 anos talvez o tenha visto em tantos
trabalhadores de aparência simples. Talvez até tivesse cruzado com você em
alguma esquina. Apesar das fotos, a aparência ainda é vaga... tão comum... Mas
a história do trabalhador simples, que se fez prefeito e ícone, essa não passa
sem que se perceba. Não se basta nas fotos. Ficou impressa nos atos.
E que se dane o perfil!
(Frederico Carvalho é professor, comunicador e diretor da TV Ponto de Vista)
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